quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020


Há vinte anos assisti Tempos Modernos.

Éramos amigos,
 em um tempo-espaço que nos pertenceu plenamente.

Naquele momento percebi que te amava

 e que não me importava que você também soubesse,

e tive certeza que você também sabia disso.


Ninguém falou em sentimentos, não houve qualquer declaração, ou romance, era uma realidade outra, um estado bruto de cumplicidade.

Fechados em um quarto entregues àquela pequena e absoluta liberdade.

Sigo te amando, como Carlitos segue contemporâneo e eloquente, mudo.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

domingo, 1 de março de 2015

Da série "escritos à lápis (e lágrimas)"

3:33 e me lembro de você.
Você e suas fixações por números e relações.
Você e suas tatuagens que adoro e que não gosto,
Mas que por gostar de você acabo gostando mesmo assim.
Você e suas contradições complexas, suas virtudes e contrastes tão familiares.

Uma dor de cabeça muito forte me faz companhia e com ela, um choro continuo e contido, um medo e um sentimento de vazio. Escrevo tudo isso porque me parece didático, terapêutico, ou porque um dia eu me interesse por uma memória  sentimental de mim mesma. Não sei se publico no meu baú de segredos, nem se te envio numa mensagem privada, não há novidades, nem angústias que nós dois não saibamos.

Hoje me perguntava porque eu complico tudo, porque é mais simples te ter cada vez mais próximo sob o rótulo de amigo, do que cada vez mais público sob qualquer outro. Sobre amigos não temos que dar tantas explicações; amigos sempre serão amigos, ainda que algum dia, por algum tempo fiquem distantes; ex amigos são casos raros, há apenas pessoas que descobrimos que nunca foram realmente amigas; ex qualquer outra coisa passam a ser apenas referências quando contamos casos do passado, ainda que lembranças muito felizes, não mais presenças.

Na minha história, a solidão sempre foi minha melhor companhia e não teve uma só pessoa capaz de abalar essa relação, não será ninguém, talvez, talvez não seja você.

Te conto isso para que você entenda, para que eu mesma possa entender. Agora, no meio de minhas confusões, limitações e traumas, prefiro a ideia de ter para sempre como amigo, do que ter a certeza de que um dia não seremos mais nada. 

Te quero muito bem e te quero, pra sempre, por perto. 

domingo, 4 de janeiro de 2015

Amnésia

começo e escrever, novamente, ao léu.

nem uma palavra sequer pensada com antecedência, apenas um impulso de esvaziar, pela falta de um coração amigo, uma angústia que cala, consome, não se distrai

a dor de agora é o sentimento que renuncio em vão. que se agarra a meu peito e me sufoca, me desfigura.

é avesso do que queria enxergar no espelho. no lugar de uma visão lúcida da minha identidade, um vulto insinuado no ambiente denso.

o caminho é muito mais longo do que quis vislumbrar. o cansaço transforma tudo em tolices.

o único alívio é estar num mundo que não é humano, pois a condição humana, a minha própria condição, única e compartilhada, me envergonha.

como é triste não admirar ninguém, nem em si, alguma faceta, uma virtude indelével. não sentir a liberdade, outrora intuída, de que não se deve ser coisa alguma.

fica aqui a reminiscência de uma integridade que só é percebida na solidão.

ousei ter como único plano ser um ser uma pessoa boa. agora me vejo totalmente impotente diante do meu próprio caráter, vivendo um paradoxo. não é a causa da dor o que me transtorna, mas o fato de ela ter despertado em mim um sentimento ruim, que renuncio em vão,

e no vão do que não foi dito, desmoronam pequenas e sagradas verdades que julgava pacíficas.
   e o que fica?
a certeza de que o plano sonhado consiste em um tiro dado, irretroativo e que a condição humana, essa sim, é irrenunciável.

e dói ser assim, humano, frágil, eminentemente solitário, carregar um choro contido, o peito doído pela vergonha de se saber pequeno.




legenda filosófica: a sela é a condição, humana, que carregamos, solitários.
a essência estaria na vida, seja qual for a sua forma agora.
 


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

ensaio

teclar
dizer
,
suspiro

a palavra que cala
o dedo que trava
o que não se anuncia

cansada de sentir cansaço
renúncia de sentir
anestesia que machuca

contraditos conflitos
sono insone
vida solo.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Esmalte

Pintei as minhas unhas de azul

É um azul claro, em tom pastel,
Um azul calmo.

Pintei minhas unhas de azul
Por que as cores eram o único refúgio possível.
Um abrigo seguro.

Ousei acreditar na alma humana,
Tudo ficou vazio,
E mudo.
Nenhum som perturbaria esse silêncio.
Que pretensão querer tocar a alma de alguém.

Pintei minhas unhas de azul,
Da cor da capa deste caderno.

Matemática.
A dor ao tentar ser dividida, multiplica-se
Na exata proporção em que fica mais nítida
A certeza de se estar sozinho.

Pintei minhas unhas de azul
E agora estou bem.
Eu me transformo.
As unhas mudam de cor e continuam, em essência, transparentes.

Assim, por fora, por ora, estou bem,
Essa é notícia que você terá de mim.

,

Não pintei minhas unhas de azul.
Foi apenas uma.
As outras continuam foscas, cobalto e violeta.

Pintei uma unha de azul.
Um azul pálido.
Exatamente da mesma cor, embora um tom abaixo,
Da capa do livro que te dei.

As lembranças que você tem de mim
Ficam como dedicatória.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Estranho sentimento

Após dois anos no silencio solitário de uma breve existência humana,
volto a esse blog para teclar ao léu, como se estivesse jogando na imensidão do mar de minh'alma uma garrafa com uma mensagem enroladinha num papel-jornal dentro ...não seria uma carta de amor, nem um pedido de socorro, apenas uma afirmação categórica e consoladora dizendo sim, você existe...pronto, posto era o bastante, era a certeza que me bastava nesse instante...
começo a me interessar cada dia mais por literatura latino-americana,
breve, hoje é só