terça-feira, 4 de maio de 2010

Esmalte

Pintei as minhas unhas de azul

É um azul claro, em tom pastel,
Um azul calmo.

Pintei minhas unhas de azul
Por que as cores eram o único refúgio possível.
Um abrigo seguro.

Ousei acreditar na alma humana,
Tudo ficou vazio,
E mudo.
Nenhum som perturbaria esse silêncio.
Que pretensão querer tocar a alma de alguém.

Pintei minhas unhas de azul,
Da cor da capa deste caderno.

Matemática.
A dor ao tentar ser dividida, multiplica-se
Na exata proporção em que fica mais nítida
A certeza de se estar sozinho.

Pintei minhas unhas de azul
E agora estou bem.
Eu me transformo.
As unhas mudam de cor e continuam, em essência, transparentes.

Assim, por fora, por ora, estou bem,
Essa é notícia que você terá de mim.

,

Não pintei minhas unhas de azul.
Foi apenas uma.
As outras continuam foscas, cobalto e violeta.

Pintei uma unha de azul.
Um azul pálido.
Exatamente da mesma cor, embora um tom abaixo,
Da capa do livro que te dei.

As lembranças que você tem de mim
Ficam como dedicatória.